Morpheu explica a Neo que ele é um escravo, como todo mundo. Que nasceu num cativeiro, numa prisão que não pode sentir ou tocar. Uma prisão para sua mente. E que precisa fazer uma escolha. Toma a Pílula Vermelha ou Azul para saber o que é real ou não:
Morpheu:
- Se tomar a pílula azul, a história acaba e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar.
- Se tomar a pílula vermelha ficará no País das Maravilhas e eu te mostrarei até onde vai à toca do coelho.
Neo opta pela pílula vermelha e a aventura começa. Bem... Ele descobre, então, que esteve sempre dormindo e servindo de alimento para as máquinas, e que agora terá a responsabilidade de acordar/libertar os outros que se encontram, também, nesse cárcere sonífero existencial.
Creio que essa metáfora cai como uma luva, pois ao encontrarmos com a Verdade do Reino, somos libertos dos grilhões que nos impedem de ver a vida a partir da perspectiva correta, com os olhos do Senhor Jesus. A conversão seria, então, uma mudança em nosso jeito de encarar os desafios que nos tornam todo o dia um pouco mais submissos e presos a Matéria, ou ao controle que é exercido pelo Império das Trevas.
C. S. Lewis sumariza todo essa questão ao dizer que o mundo é um território ocupado pelo inimigo e o Cristianismo é a história de como o Rei Justo desembarcou (poderíamos dizer, desembarcou disfarçado) e nos chama para uma grande campanha de sabotagem.
Tomar a Pílula Vermelha seria um ato de emancipação e rebelião com status quo... rompendo com todas as formas de poder e dominação. Mas, Tomar a Pílula Vermelha acabou se tornando expressão que denota um olhar crítico em relação a tudo e a todos. Creio que é a partir dessa postura radical, que muitos não só tem tomado essa Pílula, mas gritam em alto e bom som, que agora são livres. Antes eram escravos da mentira, do engano, do abuso e que agora são as pessoas mais esclarecidas e lúcidas em relação à vida.... Em especial, a vida religiosa.
Tomar a Pílula Vermelha se tornou, para alguns (ou seriam muitos?) uma postura de rebelião contra aqueles que nos mantiveram nas trevas por longos anos, a saber: pastores e igrejas evangélicas. Eles seriam os agentes do sistema que nos lançaram no limbo da ignorância e do isolamento intelectual, e que agora sabemos a verdade.
A turma que tomou a Pílula Vermelha nega com todas as forças suas influencias evangélicas, pois chegou à conclusão que o templo-domingo-clero-culto são arquetípicos da Matrix que tem que ser destruído.
Quem tomou a Pílula Vermelha descobriu a verdade lendo, Brian McLaren, Rob Bell, C. S. Lewis e Brennan Manning; e ouvindo Clube da Esquina, Chico, Caetano e Gil. Sim... porque não dá mais para ler Benny Hinn, Tommy Tenney e Max Lucado; e ouvir Hill Song e seus clones. Quem tomou a Pílula fará de tudo para provar que ser evangélico é cafona e que está fora ordem.
Sei que há abusos inúmeros em nosso celeiro evangélico. Que muitos sobrevivem dentro de um ambiente gerador de culpa e castração, mas creditar ao movimento evangélico tudo que a de pior, é ser muito ingênuo. Colocar na conta de um seguimento que possui mais de 40 milhões de adeptos a responsabilidade pelos erros e desvios morais e sociais que todos os dias nos chocam, é ter uma cosmovisao muito quixotesca.
Os que estão sobre o efeito da Pílula Vermelha de alguma maneira ou de outra, foram sim, feridos pela religião e pela falta de caráter de muitos canalhas travestidos de pastores/apóstolos/missionários e afins, mas aqueles que estão sobre o efeito de uma overdose vermelha também foram líderes desse movimento que tanto eles se envergonham. Eram assalariados pelo sistema alimentados pela Matrix, que hoje eles querem tanto destruir. Foram influentes e ocupadíssimos na construção dos seus pequenos impérios, e hoje após tombos, quedas, desvios de condutas, perceberam que não teriam o mesmo glamour de outrora nem mesmo pagando. Eles deletaram dos seus Hs qualquer registro de uma época em que foram, sim, abençoados por pessoas que não são tão brilhantes em seus argumentos, mas eram gente; sabiam chorar e se alegrar com eles.
É fato que muitos não só flertam com esses movimentos por razoes estéticas, ser igreja em nosso país muitas vezes é um convite a irracionalidade, mas achar que todos são burros e atrasados é muito loucura.
“É melhor ouvirmos Brian Mclaren se quisermos levar a realidade de Cristo ao mundo como ele está e a igreja como ela agora está”, são palavras do teólogo batista Dallas Willard, que assino embaixo, mas sacralizar ou cristalizar as palavras de Mclaren é um salto para o fundamentalismo. Brian é humano, e todo humano é míope em relação a sua leitura da realidade.
Hoje mesmo já tomei a minha dose de Pílula Vermelha, mas tenho que ser honesto comigo, não vou me tornar mais humano e feliz, porque agora no meu momento devocional, estou ouvindo Monte Castelo da Legião Urbana, em vez de um hino do Cantor Cristão. A virtude está no meio.... e não nos extremos das nossas escolhas!
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